Gosto de vídeos onde vejo as pessoas recebendo livros, abrindo e falando alguma coisa a respeito. Fico olhando a reação delas, o jeito de se comunicarem. Assisti tanta coisa ao longo desses anos no Youtube, que considero interessante esses canais que mostram alguém desempacotando os livros, porque, por mais parecidos que sejam, nenhum é igual ao outro, cada pessoa se expressa de um jeito.
O último que vi me chamou a atenção, é uma adaptação da história Guerra e Paz. Não gosto dessa coisa de mudarem a obra original, a não ser, é claro, quando querem fazer com que um público juvenil (por exemplo) já tenha uma base da obra, mas, mesmo assim, tenho minhas ressalvas, apenas respeito, por ver um contexto digno. Agora, eu penso, se a obra tem o mesmo público, por que mudar?
"Ah, a original é longa, enfadonha, cansativa, queremos torná-la mais dinâmica para alcancar mais leitores..." -- Só que esses leitores não conhecerão a obra de verdade. O que eles verão é uma versão dela. Quem lê Guerra e Paz com 200 ou 100 páginas, sei lá, não está conhecendo de verdade essa obra. Quando as pessoas vão entender que a pegada de ler não é apenas saber do que se trata a história? É se envolver.
Eu nunca li Guerra e Paz. Desanimo só de pensar. Mas vejo pessoas se habilitando nesse tipo de leitura para depois ficarem por aí, falando a respeito, como se fossem conhecedoras do conteúdo, como se transmitir algo sobre a obra em questão lhe conferisse algum tipo de status superior. Pra quê?
Tem gente que curte histórias dinâmicas. Essas pessoas realmente não terão saco para ler um livro, por exemplo, onde fala do vestido da Maria. A história, então, fica três páginas explicando como é lindo o vestido da Maria e mais cinco explicando o motivo de ela estar usando-o para o fim específico. Cada um tem que ler aquilo que está de acordo com suas afinidades. Mudar uma história, torná-la mais ágil, sei lá. Não sei até que ponto isso é válido. Como se dá esse envolvimento? Será possível se envolver? Não sei.
Dia desses me lembrei da obra de José Saramago, Ensaio Sobre A Cegueira. Lembrei que já faz um ano que a reli. Eu queria saber o que ocasionou a cegueira leitosa na população e, principalmente, o desfecho dessa situação. Eu não me lembrava desse pequeno detalhe: como ela veio e como se foi. Só que essa obra, Ah! Ah!, a escrita dela é toda embolada. Parágrafos imensos. No meio desses parágrafos estão narrações, pensamentos, diálogos, tudo junto e misturado e daí, você, maravilhosamente, por um milagre de seu próprio entendimento, vai desenrolando todo esse novelo de lã e ficando a par de tudo o que etá acontecendo.
Outra obra que reli foi Labirinto da Morte, de Phillip K. Dick, já tem uns dois anos ou mais, eu acho. Pela terceira vez. Comprei o livro no Carrefour, na era jurássica. Lembro que paguei barato, pois, se fosse caro, eu nem compraria. Cresci ouvindo de meu pai que livro não se compra, então, se comprei, foi porque estava realmente bom. Li tudo e adorei, mas nem sabia quem era o autor. Gostei de graça, digamos assim. Só depois de uns anos, sim, recentemente é que me inteirei sobre QUEM é o fulaninho, então me senti o cara mais pateta do planeta, por ter lido sem saber um livro de uma celebridade de respeito no campo da ficção científica, fantasia e distopia.
Hein? Chico Bento? Não, meu nome é Fabiano, eu acho...
A segunda vez, eu li quando já soube de quem se tratava. Todo mundo falava tanto nas obras desse autor, que eu resolvi ler de novo. Embora eu tenha gostado da história, não foi lá algo que eu considerasse monumental. Então pensei que, lendo novamente, prestaria mais atenção em coisas que talvez tivessem me passado despercebidas. Gostei muito, só que foi a mesmíssima experiência. Aonde estava tudo aquilo que os leitores tanto falavam?
A terceira vez veio depois de uns anos. Mais maduro, com cabelos grisalhos, outro entendimento sobre a vida, pensei que talvez eu compreendesse coisas que antes não era capaz de perceber. Só que não! Foi a mesma coisa. E nas três vezes eu não entendi o último parágrafo. Deu a entender que tudo o que aconteceu em Delmak-O não passou da imaginação de Seth Morley. Ai, meu Deus! Será? Quero acreditar que tem algo tão complexo que não fui capaz de identificar! Ah, Ah!
O terceiro livro que reli foi em ebook, daquele autor proibidão porque falam que ele é homofóbico e racista: Monteiro Lobato, O Presidente Negro Ou O Choque Das Raças. Ah, ficou até mais gostoso ler algo com aquele sentimento de contravenção, transgressão. Foi emocionante. Será que a PF iria bater na minha porta? Eu sou tão inignificante que, se eu não escrevesse aqui, que eu li o dito cujo, ninguém saberia.
Charlie Brown? É você?
Ler pela primeira vez essa obra me fez ver um autor que está ali, mas bem diferente do contexto do tal sítio juvenil. É a escrita dele, sem dúvidas, mas sem a cacofonia de Emília, nem a sapiência do Visconde. Nesta obra estão o pobre trabalhador ferrado que mal conseguiu comprar seu carrinho e se ferrou de novo em um acidente, fazendo com que fosse se recuperar na casa do causador de sua quase morte, um professor cientista que produziu uma espécie de máquina do tempo que lhe mostrou o futuro em que os EUA elegeria um presidente Negro. Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1926. Barak Obama já era nascido? Segundo o Google, ele é de 1961. Outra visão exposta na trama foi o empoderamento do feminismo. Talvez pelo machismo comum à epoca, Lobato não deu tanta asa a essa questão, mas, como diz Rolando Lero, da Escolinha do Professor Raimundo, o Lolô "mostrou-a-a", e mostrou como a resistência masculina temia que isso fosse desencadear certos privilégios. E outra visão foi a Internet. Sim, meu caros, o professor viu que no futuro os homens não conseguiriam viver sem as ondas de rádio, fariam tudo por meio delas. Você deve estar pensando no que as ondas de rádio tem a ver com a Internet. Se você não sabe, elas são apenas a vida da Internet, princpalmente Wi-Fi.
É ou não é pra ficar assombrado com a mente de Lobato? A escrita em si é bem simples, não tem nada demais. Então não pense que a história vai te abraçar e se grudar em você feito chiclete, porque não vai. Tem que querer ler.
Por que reler, se podemos conhecer outros livros? A resposta é: não sei. Antigamente, eu revia filmes de terror, infinitas vezes, alguns eu sabia as falas de cor.
One, two, Freddy is coming for you. Three, four, better lock the door. Five, six, grab your crucifix. Seven, eight, be still awaked. Nive, ten, never sleep again.
Claro que não tenho hábito de reler muita coisa. O tempo é um só. Preciso ler coisas novas, preciso ler os blogs dos amigos, preciso ler o que eu próprio escrevo, e, como escritor, releio e releio e releio...
Fico pensando em como deve ser com as outras pessoas, como é que elas lidam com suas leituras? Elas leem para se envolver? Ou para saber do que se trata a história, e já passam para o próximo livro? Se a pessoa mal tem tempo de se envolver nos posts de um blog, como ela espera ler páginas e páginas de um livro? Como será que as pessoas lidam com isso?
Um abraço, até a próxima postagem!
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