domingo, 17 de agosto de 2025

A DIABA, A GATA E A MENSAGEM

Eveline Passos Rodrigues teria entrado para o mundo do crime após ser vítima de uma tentativa de feminicídio, assim diz o começo de uma matéria publicada por Caio Possati, às 19h27 e atualizada às 20h41 do dia 16 e Agosto de 2025, no portal de notícias do Estadão - clique aqui para ler 

Não vou desmerecer o escritor com suas informações, pois ele está cumprindo seu serviço jornalístico. Apenas quero refletir sobre essa motivação alegada, que diz que Eveline se tornou a Diaba Loira do crime após sofrer uma tentativa de feminicídio. Então, o que teria sido isso? Namorado irado? O dono da padaria a quem ela devia mortadela? Algum príncipe agiota revoltado? Não vi nada devidamente explicado logo após essa declaração, pois o que esses veículos querem é menos detalhamento do que julgam desnecessário e mais repetição daquilo que já vem sendo propagado por aí. Meu companheiro, quando era escrivão, já dizia que essa turma era apelidada carinhosamente de papagaios de plantão, pois cumpriam o dever de repetir, repetir e repetir. O teor que seguiu foi de que a mulher nasceu em Tubarão, Santa Catarina e morreu no Rio de Janeiro, que trocou uma facção por outra e blá-blá-blá. Se houve uma explicação maior a respeito dessa tentativa de feminicídio que lhe abriu as portas do crime, deve ter ficado em alguma parte além das irritantes publicidades que apareceram, me fazendo pensar que a matéria havia terminado. Quem sabe? 

Eu só sei que é muito comovente e parecida a origem da Mulher-gato no filme oitentista de Batman, dirigido por Tim Burton, onde a Celina (ou Selina), interpretada por Michelle Pfeiffer, é tão dócil e inofensiva que chega a ser patética, mas os patéticos sabem muito bem ser curiosos e descobrir o que não devem. Ela sofre essa tentativa de feminicídio ao ser empurrada de um arranha-céu e ser lambida por alguns gatos vira-latas da ocasião. Ela retoma a consciência e se dá conta do que aconteceu, de que o sistema lhe ferrou quando acreditava em flores e carinho para a regeneração de bandidos, que valeria a pena ser honesto, decente, cheio de valores e bons princípios. Percebendo que quase foi para o além e que esse sistema está cagando e andando para ela, surge então a mulher que é o oposto de tudo que Celina (Selina) sempre foi. Mas, na verdade, o que constatamos ao longo do filme é que esse lado sempre fez parte dela. 

Assim digo que a encantadora e inocente Eveline, que talvez tenha crescido acreditando no discurso da loira hipócrita que fala "querer, poder e conseguir" em seu programinha matinal, que talvez soubesse de cor e salteado a letra de Lua de Cristal, ela sempre teve essa "veia", digamos assim, em si. É do ser humano precisar de justificativas para explicar o que é de sua natureza. É claro que o sistema em que vivemos tem sua parcela de culpa, mas, quando escolhemos fazer algo ruim, significa que poderíamos ter escolhido qualquer coisa diferente também, mas ES-CO-LHE-MOS o caminho da vingança, da superioridade e do poder. Não deixa de ser triste. Lembrei de sad but true (Metallica) 

E se você acha que Eveline é uma exceção, eu já acho que estamos prestes a descobrir um ninho de mulheres envolvidas nesse tipo ação, ainda mais agora, que elas possuem supostos privilégios e, em alguns momentos, basta a sua palavra, sem qualquer comprovação. 

Essa realidade de mulheres no crime já foi mostrada em rede nacional no passado, pela personagem Bibi Perigosa (Juliana Paes) em uma novela de Glória Perez, autora que admiro porque se recusa a continuar sendo moldada pela agenda da moral e bons costumes que visa destruir toda forma de entretenimento que é considerada nociva. A última novela da autora ficou sem pé nem cabeça e ela brigou com a emissora após constatar mudanças em sua trama futura,  preferindo abrir mão dela, a se submeter às interferências supostamente necessárias. 

Pelos tempos estranhamente sombrios em que vivemos hoje, acho que muito mais está por vir. Não apenas por mulheres como Eveline, mas pela degradação de grande parte da população em geral - mulheres, homens, homossexuais, héteros, pans, pessoas com seus corpos e mentes em perfeito estado e também as que possuem determinadas especificidades. Prevejo um aumento perigoso de pessoas em alguma atividade criminosa de alto risco, pois o sistema está ruindo, os homens têm sua natureza ambiciosa pela sede de poder, então logo esse pessoal terá seus motivos para justificar suas escolhas que ajudarão a ruir com o país, e com o aval de um sistema que me parece estar com catarata, confundindo ratos com filhotes de cães ou gatos, alimentando-os em suas tetas, feito bebezinhos bênçãos de Deus no colinho da mamãe - bebezinhos que crescerão,  tornar-se-ão homens vistosos, atraentes e asfixiarão a própria mãe, sedentos que estarão por mais daquilo que recebem, mas a mãe não terá mais condições de suprir. 

Preciso deixar claro, hoje em dia, que não se trata, realmente, de homens e suas mães. Isso se chama metáfora. Se você precisou dessa explicação, nem sei o que faz aqui. Deve estar perdido de sua mãe. 

13 comentários:

  1. Não, o que eu escrevo IA alguma poderia escrever. Volto depois.

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    1. É que ficou diferente, sabe? Mas se for, tudo bem pra mim. Não tiro seu mérito.

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    2. como assim "se for" cara pálida?? kkkk
      Já falei e repito: No dia em que eu pedir para uma IA escrever uma crônica para mim, estarei decretando minha falência intelectual e imaginativa. Não que eu seja contra a IA. Eu só faço pesquisas agora com ela. São boas nisso. Sei que tem um monte de "escritor" por aí colocando só o nome em livros e artigos feitos por IA. Acho isso deprimente. Decretação da falência da criatividade humana. Ah, e se for só por brincadeira? Tudo certo. Eu mesmo pedi para o GPT analisar meu blog....achei que ele foi justo na análise que fez. Qualquer dia eu posto lá. O meu problema é quem assina uma obra feita por outra "pessoa" sem indicar a fonte.

      E sim, você é bem perspicaz. Meu estilo de escrever pode mudar de acordo com o tema que escrevo. Acho que tenho essa capacidade de cameleão. Acho que isso veio com a minha forma de escrever. Na escola, jamais consegui ter um padrão na minha letra escrita. Hora eu escrevia de um jeito, hora de outro. Meu caderno era uma grande salada de formas alfabéticas. Depois de anos, de tanto eu forçar, conseguir manter um certo padrão quando escrevo à mão, mas sempre acabo diversificando.
      Devo ter algum chip defeituoso.

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  2. Não sabia dessa desculpinha que deram à diabinha. Então por todos os perrengues que passei na vida, desde a infância com uma mãe maluca, tenho meio que um certo aval para tocar o louco? Bom saber...
    Gostei da recordação da Mulher-Gato de Burton. O patrão a fodeu e ela despejou todo o ódio contra inocentes. E olha só a sincronicidade, acabamos, ambos, metendo a Michelle Pfeiffer na história. Tadinha...
    Depois da novela da Gloria Perez, várias "Bibis" surgiram por aí. Toda maloca passou a chamar a si mesma por "Bibi".
    Endosso suas previsões. É o que se desfralda aos nossos olhos, claramente.
    Abraços!

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    1. Escrevi a postagem após ler a sua, então posso ter me influenciado em relação à Michelle Pfeiffer. Você pegou uma referência e eu peguei outra. Curiosamente, a Michelle estava em ambas. Não sei se o cinema ainda terá essa carga. Tenho achado tudo muito diferente. Bom, eu quase não vejo filmes norte-americanos, ultimamente.
      Achei muito boa s postagem no seu blog.
      Um abraço.

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  3. Sinceramente, passei por esse acontecimento bem por alto. Li uma manchete mas não quis me aprofundar. Não me interessa muito pois não há novidade na trama da realidade.
    Você disse bem: "esse lado sempre fez parte dela" Nietzsche já dizia de que nada do que é humano lhe assombrava. Temos muitos lados, muitos desconhecidos até mesmo por nós que em algum momento, se revela e vem à tona.
    Não acredito em livre arbítrio absoluto. Toda decisão que tomamos, não tomamos totalmente de forma livre, pois toneladas de circunstâncias, adestramentos, ideologias, condicionamentos, entram na equação, mas ainda assim, cada um de nós é responsável pela decisão mais simples que tomamos.

    p.s. Esse comentário não foi feito por uma IA.

    hA HA HA HA HA....GALHADA MAQUIAVÉLICA DA CELINA DEPOIS DE SER LAMBIDA.

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    1. Tenho varios de mim e a gente entra em conflito, daí fica tudo meio doido e difícil

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  4. Fabiano,

    sua crônica é um mergulho profundo e inquietante na realidade que insistimos em simplificar.
    Adorei a forma como você mistura jornalismo, cultura pop e reflexão filosófica, sempre com aquele humor ácido que dá gosto de ler. Eveline, a Diaba Loira, e suas metáforas entre gatos e arranha-céus me fizeram rir e pensar ao mesmo tempo impossível não se perder no seu labirinto de palavras! Uma leitura provocadora, envolvente e absolutamente especial.
    Vim lá do Eduardo e vou ficar.

    Abraço
    Fernanda

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    1. Ah, que bom! Muito obrigado, você vainme amar e querer bater ao mesmo tempo, mas eu sou da paz.

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  5. Fabiano,
    Eu penso que está tudo dentro
    de uma tal de "inversão de valores".
    E dentro dela, há escapes para
    tudo e todos.
    Prefiro ler e aguardar o que mais
    vem chegando, sempre muito
    ressabiada e assustada.
    E quanto a ler, li toda sua matéria
    interessada e a achando interessante
    e muito bem redigida. Você
    sabe se posicionar. E só uma observação
    nada a ver com o texto:
    Se seu par é do lado da lei como escrivão,
    o pai do meu par tbem era como delegado.
    Então, eles sabem bem o que dizem, num é?
    Bjins
    CatiahôAlc.

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    1. É, cabe observar o mundo, como as coisas vão acontecendo e supostamente evoluindo. Algumas coisas podemos desfrutar com satisfação, outras assustam e não sabemos o que pensar, como reagir.
      Acho que, no fuundo, nos tornamos um pouco como nossos ancestrais. Minhas avós sempre me passaram a sensação de que não desfrutavam devidamenrte do mundo da mesma forma que eu e meus pais. A impressão era que elas estavam conosco, passeavam, faziam bolinhos ou pãezinhos à tarde, mas, ao mesmo tempo, eram conflituosas por pertencerem a uma realidade que não havia mais. Viviam o nosso tempo como observadoras, não como se pertencessem totalmente dele.
      Acho que agora começo a entendê-las.

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