segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O PESCADÔ E A SEREIA

Vi um post no blog do Jotabê falando em prosa de pescadô e me motivei a colocar uma aqui.

Um pescadô, uma vez, disse que jogou a vara e pescou uma sereia que era tão bela e formosa que não conseguiu fugir, queria mais era receber uns carinhos dela. 

A  mulher se aproximou, mostrou a minhoquinha que costumava servir de isca e meteu a minhoquinha na boca dele, fazendo com que ele saboreasse na marra aquela minhoquinha. 

Em seguida, ela falou para ele ir para casa e nunca mais voltar ali para pescar nada. Se voltasse a vê-lo, daria um jeito de enfiar uma minhoca maior em sua boca. 

Ela deu um mergulho e sumiu. 

O pescador nunca mais esqueceu aquele mulherão. Ele voltou várias vezes no local, na esperança de ver aquela beleza toda outra vez. 

Diz a todo mundo que nunca mais a viu, mas de vez em quando ele volta lá, motivado pelos encantos da sereia.

domingo, 28 de setembro de 2025

O INDÍCIO OCULTO DE UM CRIME

Dona Chica fez uma intreração interessante em sua postagem onde pediu para que criássemos algo utilizando as palavras aquilo - detetive - zom. Pode ser uma frase, um miniconto, uma poesia, qualquer texto compreensível.

Quando ela faz essas brincadeiras, a própria postagem já traz a criação dela como exemplo, e eu dei uma risadinha no final do miniconto dela. Adorei. Convido você a ler o que ela escreveu lá, direto no blog dela.

Segue abaixo, o conto que coloquei nos comentários dela e compartilho aqui, para guardar no meu blog. Quem sabe eu o use por aí, em outras publicações na vida.

O INDÍCIO OCULTO DE UM CRIME

Aquilo vinha e voltava na mente do detetive. Aquele corpo nu, visivelmente atirado ao chão frio e duro do cômodo sombrio no interior mais funesto daquele prostíbulo.

Ele tirou fotos e mais fotos. Fez vídeos também.

Agora tinha que tentar dormir, mas dormir de que jeito, se já eram quase cinco da manhã, a adrenalina ainda não baixara e seu celular estava ali, na palma da mão, com todas aquelas imagens que ainda visualizava.

Na tela, o dedo deslizava. Uma a uma, as fotos eram analisadas.

Eis que, em um repente, ele se viu obrigado a dar um zoom.

Olhou, viu que existia um pequeno detalhe que representava a diferença sobre a causa da morte daquela pessoa. Pensava-se, até então, em overdose na veia, pelos indícios do material encontrado ao lado. Chegava ser óbvio.

Agora ele passou a cogitar asfixia.

Um sinal pequeno, leve, como uma ínfima marca de dedo no pescoço. Um local praticamente escondido por causa da posição tosca em que se encontrava a vítima. Só uma das inúmeras fotos conseguiu captá-lo. Um hematoma na região da traqueia. Combinava com a boca entreaberta, a maneira como ela estava. Ela não podia declarar seus verbetes sobre o que lhe fizeram, mas, a seu modo, ajudou os indícios do corpo a alertarem que aquele cenário de vício descontrolado fora forjado.

Será?

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

WANDINHA, DA NETFLIX


Vi a série Wandinha, da Netflix. 2 Temporadas com 8 episódios cada.
Gostei de ambas. Cada uma traz uma situação com começo,  meio e fim, então você pode ver apenas a primeira (ou a segunda) e tudo bem. 
Apesar dos tempos em que vivemos, onde existe um cerceamento ferrenho contra impactos, gatilhos e muita coisa, tornando muito difícil algumas coisas peculiares se tornarem divertidas, essa franquia conseguiu realmente tirar leite de pedra e trouxe entretenimento do bom, principalmente pela originalidade em que colocaram esse núcleo que sempre se resumiu a uma família monstro em um microuniverso onde convivem com vizinhos que os acham bizarros. Conseguiram elevar a família a um patamar melhor, colocando uma porção de acontecimentos em um lugar onde eles não são os únicos esquisitos, 
Não digo que a série é melhor que os dois filmes tão famosos no passado, estrelados por Anjelica Houston  Raúl Juliá e Christina Ricci. Digo que a série é tão boa e icônica quanto. 
Uma terceira temporada foi anunciada. Espero que não demorem nem façam a palhaçada de fracioná-la, como aconteceu em Round 6. De qualquer maneira, eu só quero dizer que para mim valeu muito a pena ter visto. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

VISITANDO AMIGOS BLOGUEIROS

Era para eu colocar uma tirinha de quadrinhos das gêmeas Paulinha e Claudinha, mas ela não está pronta, então resolvi zapear na blogosfera, porque sei que estava devendo visitas a alguns blogueiros que aqui vieram e já devem ter pensado que sou folgado e outras coisas mais.

O primeiro blog que visitei foi o da Catiahô, mas este eu já conheço. No começo, eu detestava o layout e o estilão da postagem, dividida em algumas partes. Eu me sentia como um vampiro em um amontoado repleto de cabeças de alho. Um dia, tomei vergonha na cara e me conscientizei de que o Sol não gira no meu umbigo. Uma pena. Não é o blog dela que tem que se moldar a mim. Sou eu que preciso gostar do jeitinho que o blog é. Hoje, já estou acostumado e penso que é melhor assim, que cada um permaneça com sua autenticidade, pois, ainda que ela fizesse mudanças, isso não garantiria que eu virasse fã. Adorei tudo na postagem dela, desta vez, até a música, que foi da Calcanhoto. Eu gosto da Calcanhoto. Ela me remete a um tipo de calmaria que eu tenho certeza que não faz parte da Calcanhoto, mas minha mente debiloide quer acreditar que sim. Enfim, prefiro não discutir com meus eus, porque eles são muito difíceis. 

Em seguida, visitei o blog do Andre Mansim, cujo sobrenome deve ser uma baita pegadinha em uma noite quente de verão, principalmente se ele fosse solteiro e eu fosse uma mulher bonita. Ele tem cara de padre, mas eu sei que padres são fogosos também, então tá tudo certo imaginar essas coisas. 

"A Festa do Arcanjo Miguel". Tanta postagem para eu "dar de cara", mas um homem que já foi mormon, psicografou, participou de reuniões de preto velho, fez reiki nível 1 e foi voluntário por uns meses, estudou o livro do ouro de Sant Germain e a poderosa chama do Eu Sou, fez rituais de sigilação, ordenou a servidores etc etc etc, bom, eu só poderia me deparar com essa postagem como sendo a primeira. Às vezes eu tenho a impressão de que o universo ri na minha cara.

Eu me impressionei com a escrita dele. Vi outras postagens. O blog dele é viciante. Escrita boa pra caralho. Vi que tem livro também e tal, mas o tempo é um só, também sou escritor, youtuber, dono de casa, enfim, foi preciso sair de lá e conhecer outro blog. Afinal, o tempo estava indo.

Cheguei ao blog da Dona Chica. Tudo bem meigo. Bem meigo mesmo. Eu me senti o Fabianinho de uns sete anos, a doce menininha toda inocente sobre a vida, esperando minha avozinha paterna terminar de fazer a "pida" (um tipo de pãozinho sírio, mas ela era italiana, então sei lá). Isso é bom ou ruim? Não sei. Gostei de me lembrar de minha avó, mas meus eus já vieram logo em minha autodefesa e colocaram um comentário irreverente lá. Espero que ela não se zangue. Foi só para quebrar a pasmaceira. Eu vejo as pessoas comentando praticamente o mesmo tipo de coisa, então penso: "vou colocar algo diferente, nem que seja para provocar". O ruim é que posso errar a dose e ofender a pessoa. Preciso tomar cuidado com isso.

Prometo não falar mais do Ronaldão, viu Edu? Sei que você não gosta e te acho muito gente boa no blog.

Por fim, conheci o blog da Daniela, um nome lindo que lembra uma cliente maravilhosa dos meus tempos de filmagem de aniversários, batizados e casamentos. Ela se chamava Daniela, era uma mulher belísssima. E o marido não lhe dava valor. Eu via, mas era apenas o filmador, então ficava na minha. Isso foi há muito tempo, os filhos eram bebês. Devem estar enormes. Mas, fica a afeição.

O blog Alma Leve, da Daniela, me abriu com uma historinha poética superfofa. Como meu espírito, hoje, não está metabolizando muito bem essas coisas, reescrevi mentalmente (só em minha imaginação), aquele final, mas eu conto aqui. A menina acabou pisando em falso, se desequilibrou e caiu do alto da rocha onde estavam. Felizmente sobreviveu, mas quebrou uma perna e um braço, o que fez com que João, tomado pela culpa e o romance ingênuo, se sentisse importante em ter que visitá-la todos os dias, levando sempre um chocolatinho, a materialização do quanto a considerava gostosa e divertida.

O post anterior dela conversou mais comigo, pois falava da importância que nós, escritores, temos de nos expressar, o nosso jeito de ser, caracterizado no que transmitimos em palavras. Ela fechou com uma colocação curta e direta, e que considero essencial sobre nosso espaço na Internet. Adorei conhecer a escrita dela.

Adicionei todos em minha lista, pois é o meio mais fácil para eu conferir as atualizações. Prometo visitá-los sempre, mas, se eu passar um tempo sem ir, não é nada pessoal. É que eu também escrevo, leio, faço minhas coisas, o tempo é um só para muitas atividades. Adorei conhecer o espaço de vocês. 

Também adicionei você na lista, Jotabê. Um abraço.

domingo, 7 de setembro de 2025

UM CONTO SOBRE TRAIÇÃO

Obs: Narrado em primeira pessoa do sexo feminino

Acordei quando boa parte da manhã já tinha ido. Com certa lerdeza no andar e a visão um tanto turva, eu olhava à minha volta e não conseguia encontrar os pães. Estava certa de que havia uma embalagem fechada de pães de forma. Eu os mantive guardados, justamente para não ter o trabalho de ir à padaria quando não me sentisse disposta, mas agora não os encontrava, então me restou escovar os dentes, tacar uma água na cara, colocar uma roupa e ir comprar os benditos pães de todo dia. Só que eu não comprava pães de forma na padaria. Não. Lá, eles custavam mais caro. Compensava aproveitar as ofertas do supermercado. Na padaria, eu dava preferência ao filãozinho, ou seja: o tal do pão francês.

Antes, inventei de fazer café. Enquanto ele passava pelo coador, meu intestino deu sinais. Poxa, não podia esperar um pouco, até que eu voltasse da padaria? O jeito foi obedecer. Fiquei mais tempo do que pensei. Uma parte gordurosa indicou que tinham ido embora os lanches gordurosos consumidos ontem, na minha mãe. Sentindo-me cinquenta quilos mais leve, tive a sensação de flutuar a cada passo. Sério! Não tem sensação melhor que esta! Nem a do orgasmo!

O café estava pronto. Fechei a garrafa térmica, lavei as peças do coador e procurei a caneca que eu sempre utilizava para bebericar um pouco dele. Não a encontrei. Raios! O que estava acontecendo? O jeito era ir logo até a padaria. Como se, ao voltar, uma mágica aconteceria: eu encontraria minha caneca e, quem sabe, até os pães de forma.

Quando saí portão afora, vi o carro do irmão de Júnior estacionado em frente a casa dele. João Gilberto estava sozinho. Achei um verdadeiro milagre “aquela uma” não ter vindo. Se bem que não era nada comum a presença do próprio Gil em pleno dia de semana, quase na hora do almoço. Aquilo foi o suficiente para que eu acionasse, automaticamente, uma luzinha amarela dentro de mim. Aquela que, a exemplo dos semáforos, indica atenção. No caso, parecia que algo estava prestes a acontecer. 

Fingi esquecer alguma coisa, então voltei para dentro de minha casa, mas fiquei andando feito barata tonta pela garagem, fazendo de conta que estava procurando algo. Se alguém me perguntasse, eu diria que minha moeda tinha caído em algum lugar. A verdade é que eu resolvi enrolar, a fim de ver o que se desenrolaria à minha frente, já que era possível ver tudo o que se passava pelas grades do meu portão.

A casa de Júnior tinha campainha. Gil a tocou e, em seguida, escutei-o dizendo ao celular:

— Abre essa porra, senão vai ser pior pra você!

A voz dele não era alta. A pronúncia me soou quase inaudível. Era um tom macio, suave e grave ao mesmo tempo. Não era um vozeirão inflamado. Era uma voz masculina, só que suave. Ainda que ele estivesse puto, era próprio de sua voz o som de uma certa calma.

O portão de Júnior é um pouco melhor em relação ao meu, só que ambos não possuímos trava automática. Para destrancá-lo, é preciso que Júnior apareça com as chaves. Continuei me fingindo de morta, na expectativa de vê-lo surgindo. E foi o que aconteceu.

Eu me lembrei de ontem, quando saí sem ser notada enquanto Júnior dormia, de quando tranquei tudo e atirei as chaves ao chão, vendo-as deslizar pelo piso frio e liso, até pararem no rumo da porta da sala. Era para Júnior, agora, se agachar para apanhá-las, só que não. O modo direto do caminhar dele rumo ao portão me fez entender que o bonito já tinha acordado há certo tempo e apanhado as chaves. Ok, eu era a dorminhoca da ocasião. Queria pensar que ele também tivesse dormido bastante, como eu, e só neste exato momento estivesse indo até o portão. Então eu o veria abrindo a porta da sala e estranhando o fato de flagrar as chaves bem ali, um passo adiante, no chão da garagem. Ele se agacharia para pegá-las e se lembraria de mim com carinho. Essa idealização só existiu na minha cabeça.

Júnior veio rápido até o portão, pedindo calma. Ouvi ele falando “calma”, umas três vezes, no mínimo. E cada vez que Gil o ouvia, mais eriçado ficava. 

Gil nem entrou direito e já foi para cima de Júnior. Quis esmurrá-lo, mas o irmão, esperto que é, afastou-se logo. Gil gritava, xingava nomes horrorosos, nem parecia aquele homem controlado que eu tanto via. Não me lembro desse descontrole nem no dia do atropelamento de sua própria filha: aquele momento estúpido que eu gostaria de não me lembrar.

Júnior correu para dentro. Gil o seguiu, ainda gritando. O portão ficou aberto.

Não havia mais motivo para permanecer em minha garagem. Fui até o portão dele e fiquei na indecisão sobre adentrar. Percebi os dois lá dentro, na sala, um querendo falar mais alto que o outro, mas nada se aproveitava, eram ofensas de baixo calão. Alguns barulhos indicavam ações bruscas de alguém. Nesse momento, uma voz feminina surgiu, histérica, no desespero de apaziguar os ânimos. Ouvi dois novos barulhos. Pareciam murros. Ou eram empurrões? Alguém havia caído. A mulher gritava. Seu desespero era visível. 

Fiquei preocupada no momento em que ela falou:

— Para! Larga ele! Larga! Larga! Larga! Você vai matar o seu irmão! Ele tá ficando roxo! Não tá vendo? Larga ele, pelo amor de Deus, homem!

Eu estava pronta para intervir, mas percebi a súbita movimentação de alguém prestes a sair da sala e vir para a garagem, então, não sei o que me deu, eu me escondi em uma telha de amianto grande, colocada na vertical, que se apoiava em uma das paredes na área da garagem. Ninguém me via ali.

Gil apareceu sendo conduzido a duras penas pela própria esposa, que não parava de gritar para que fosse embora. Ela gritava, ele gritava os impropérios contra o irmão e Júnior revidava as ofensas, surgindo em seguida, apresentando certa dificuldade ao falar.

A tosca da mulherzinha, a muito custo, conseguiu tirar o marido de dentro da garagem.

— Pelo amor de Deus, homem! Vamos embora já!

— Sua puta! Vagabunda! Você vai ver quando chegarmos em casa! Ferro com a minha vida, mas você não vai ficar impune!

— Para! Para com isso, animal! O que você pensa que tá fazendo? Vamos embora logo, antes que alguém chame a polícia!

E Júnior, lá de dentro:

--Vai, corno! Obedece sua mulher, chifrudão! Tomou no cu gostoso, irmão! Cornão!

Uma nova descarga de adrenalina se apoderou de Gil, fazendo com que ele empurrasse a tonta da esposa e voltasse para a garagem. Júnior picou a mula para dentro, trancando a porta da sala e gritando lá de dentro:

— Corno! Corno viado! Corno manso! Chifrudo! Muuu! Ah, Ah, Ah!

Gil esmurrava a porta:

— Desgraçado! Vou acabar com sua raça!

— Muuu! Ah, Ah, Ah! Lero-Lero! Corno!

Gil começou a chutar a porta:

— Vou botar essa porra abaixo e vou acabar com a sua vida!

Lá fora, a mulher gritava e pedia para que fossem embora. 

Lá dentro, Júnior ria e debochava.

— Chupa essa fruta! Chupa essa fruta que pra você só tem o caroço! Eu já comi ela todinha! Ah, Ah, Ah!

Por incrível que pareça, a porta resistiu a todos os muros e pontapés de Gil, e não foram poucos. Por fim, o efeito da adrenalina foi passando e ele resolveu se juntar à esposa, lá fora, junto ao carro. Ela já não sabia mais o que dizer para convencê-lo a ir. Calou-se quando ele passou ao lado e vociferou um cala-boca, então entraram no carro e partiram.

Júnior abriu a porta e foi ligeiro em direção ao portão, viu o carro se distanciando e gritou mais impropérios. Sua voz estava rouca, praticamente afônica. Notei um hematoma ao redor do olho esquerdo e outro na parte inferior do nariz que, por sua vez, estava sangrando.

Ele ficou na calçada por um tempo, olhando o carro desaparecer ao longe. Ao entrar, trancou o portão e levou um susto quando me viu. Eu já tinha saído de trás da telha. Estava só observando quanto tempo ele levaria para me notar.

— Sandra!?

— Só me deixe sair, Júnior. Por favor.

— Er… Er… 

Ele queria me falar alguma coisa, mas percebi a dificuldade em concatenar as ideias. Eu não estava com ânimo para desenvolver nenhum tipo de papo cabeça àquela altura dos acontecimentos. Eu só queria sumir.

— Não… — ele disse, com muito sacrifício; até respirava com dificuldade, tamanha surpresa lhe causei.

— Só abra esse portão –- fui incisiva.

Ele o destrancou e o abriu. Dei uma última olhada naquele rosto machucado. Reparei também em uma vermelhidão no pescoço. Talvez tenha sido asfixiado por um mata-leão, o que tem a ver com os gritos da piranha, há pouco, dizendo que ele estava ficando roxo. Sim. Foi ele quem apanhou. E minha vontade era de bater nele também.

Só fui.

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Não comi os pães. Que pães? Os pães de forma que eu achei em um canto, no fundo da geladeira. Pois é! Era só ter aberto a geladeira.

Se eu tivesse aberto a geladeira, teria encontrado os pães de forma.

Se eu tivesse aberto a geladeira, não teria visto a menor necessidade de ir à padaria.

Se eu tivesse aberto a geladeira, não teria ido, àquela hora, até o portão de casa, não teria visto o carro do irmão de Júnior lá fora e não teria descoberto que Júnior me traiu com a cunhada.

Como a vida, às vezes, parece rir gostoso na cara da gente.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O QUE IMAGINO DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Hoje eu quero falar do escritor Luís Fernando Veríssimo, que morreu em 30 de Agosto de 2025, já tinha 88 anos e sofria de várias complicações, então posso dizer, sem pesar, que ele descansou e curtiu a vida como foi possível -- sim, pois, por mais otimista que seja um homem das antigas, se ele preza por sua família, ele sempre terá momentos de intensa frustração e cometerá erros talvez inexplicáveis, porque às vezes é preciso manifestar o peso de ser o provedor de todos os seus. Ainda que a esposa trabalhe e os filhos estejam criados e vivendo suas vidas em outros lares, formando suas próprias famílias, um pai das antigas sempre toma para si o fardo pesado de ser o provedor de seu lar e de quem ele se sente responsável, mesmo que esse alguém não more mais lá. Então, o viver intensamente de homens como Luís Fernando Veríssimo é bem diferente do viver intensamente dos homens de hoje, que não estão nem aí para um trabalho estável onde podem se aposentar e, por meio dele, obter namorada, mulher, carro, casa, filhos, um cachorro, juntar tudo e chamar de lar. 

O homem de hoje quer beijar, mas não quer se compromissar, quer amar, mas não quer tomar para si a responsabilidade de cuidar do(a) outro(a), quer ser feliz com ele(a), mas decide cair fora antes de ter maiores problemas pelos quais julga não precisar arcar. O homem de hoje não quer se ver trabalhando eternamente na mesma empresa, nem se sentir escravo, subalterno, inferior em seu trabalho. Ele quer dar sorrisos e manter a endorfina nas vinte e quatro horas do seu dia. Acha que a vida é um bem-estar constante, que o sofrimento, a rejeição, o constrangimento e a resignação servem para os outros aprenderem alguma coisa, mas nunca para si. Quando passa por alguma situação difícil, alguma provação, ele já não sabe o que fazer, se sente fraco demais, prestes a sucumbir. Não entende, ou melhor: não quer entender que a vida não é um eterno pátio colorido de coisas bonitas que sorriem e atendem suas expectativas. 

A impressão que eu tenho é que os homens de hoje despertam bem mais tarde para o que realmente é a vida. Alguns nunca despertarão. Comportar-se-ão como eternos jovens de dezoito a vinte e cinco anos, achando que a noite do fim de semana foi feita para frequentar barzinhos, boates e terminar com uma carne gostosa ao seu lado na cama -- algo que sempre foi o sonho de todos os antigos, ou da maioria, eu acredito. Sim! Muitos desejavam poder esticar a fase da juventude em que gozavam da vida. Então eles acordavam e tratavam logo de cuidar da realidade, que era diferente, mas não menos interessante.

Luís Fernando Veríssimo foi um escritor, roteirista, humorista, cartunista, dramaturgo, publicitário, músico, em uma época onde as mulheres não tinham todos os privilégios de hoje, nem os filhos, nem a sociedade proletária, então a pobreza, a ilusão e o romanceamento da fuga pelas responsabilidades da vida não ultrapassavam as páginas de papel, pois, se ele vivesse feito um alienado, certamente decairia em seu patamar de vida, levaria toda a família a essa queda e sofreria muito pelas mazelas sociais antes de ser agraciado por algum tipo de benefício atual que o permitiria sobreviver com uma corda no pescoço a todo momento. Quero dizer que, em seus tempo áureos, ele teve colhões para correr atrás de suas realizações, que cada conquista foi adquirida com os pés no chão e muito esforço, capacitando-se, exercendo suas aptidões, peitando dissabores, conflitos, provações, continuando a seguir em frente com medo mesmo, ou com raiva, sem tempo de ficar pensando demais na morte da bezerra, ou achando isto ou aquilo. 

Filho de Érico Veríssimo, exímio escritor cujo conteúdo de "Olhai os lírios do campo" eu vi fracionado desde cedo em livros diáticos da língua portuguesa em minha escola primária, ele certamente deve ter atraído olhares reprovadores de quem achou que a vida lhe deu regalias e privilégios. Se isso aconteceu, e daí? Cada um luta pelo seu espaço neste mundo utilizando-se dos recursos de que dispõe. O que importa no homem em geral, para se avaliar o quão significante é (ou foi) a sua vida são os valores, os princípios transmitidos e se o seu trabalho exercido teve um bom resultado a outrém. Eu acho que Luís Fernando Verísimo se encaixa nisso. O homem tímido que deu um jeito de se comunicar. A pessoa séria que soube fazer graça. Eu não conheço nada dele. Uma vez, li uma de suas obras, os tais contos de Ed Mort, e não "conversou" comigo naquela época, talvez porque eu estava passando por uma porção de coisas, ou talvez porque realmente não haja afinidade. Mas eu sou uma pessoinha errante que se esforça em continuar sendo um leitor quando tudo me desanima, quando todo santo dia eu vejo um estímulo para abandonar esse hábito. O que eu quero dizer é que eu não sou parâmetro e que pessoas com mais alegria de ler, que possuem mais intimidade nesse meio literário, não apenas podem discordar de mim, como, certamente, já leram outras obras dele em algum momento de suas vidas. 

É só isso o que eu gostaria de dizer. Acho que falei uma porção de bobagens, mas é que todo mundo já falou o que deveria ser dito, então eu não queria, agora, simplesmente fazer o papel de um papagaio. Que me perdoem se viajei demais. Foi a imaginação que falou mais alto. Eu não queria deixar passar em branco, como foi a um monte de outros autores, pois a escrita do Luís Fernando, do pouco que vi, foi essencial para a comunicação mais popular e coloquial que predomina agora.

Um abraço, meus caros! Se você leu algo do autor, coloca aí nos comentários.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

CONSTRUÇÃO PARTICULAR

Noite quente, sei lá que horas, ventilador pequeno tentando refrescar o quarto que cheirava corpos ardentes que acabaram de se entregar ao orgasmo. 

Ele se esticou para apanhar o isqueiro e o maço de cigarros, mas continuou na cama e manteve o outro braço a ela abraçado. 

Ela, franzina, pele pálida, relaxava com a cabeça no peitoral suado, vermelho e gordo dele, cujo coração se ouvia bater em seus ouvidos. Uma das pequenas e delicadas mãos repousava na barriga peluda e saliente dele, como se ela fosse um imenso travesseiro.

Após contar sua condição soropositiva e também a condição de ansiedade e depressão, ela deixou claro que entenderia se eles não se vissem mais. Aquela era a terceira foda em um quinto encontro. Queria tê-lo para sempre, mas sabia que seria muito egoísmo. 

- A gente vai dando um jeito - ele falou, acendendo o cigarro à boca.

- E se a minha doença piorar?

- A gente vai dando um jeito - ele repetiu, regozijando-se no alcatrão e na nicotina do fumo.

- E se a sua vida se complicar?

- Ah, ela certamente irá. 

- Então! Como é que vai ser isso?

- A gente vai dando um jeito.

Eles se olharam, ele riu e tirou o cigarro da boca:

- Mulher, não existe vida perfeita em um relacionamento sério. Existe uma construção a dois. Você, com seus problemas, e eu com os meus. E enquanto a gente puder, a gente dá um foda-se para eles, fazendo o que que gente fez agora: fodendo. 

Ele voltou a fumar, contente em sentir a mão carinhosa dela lhe acariciando em silêncio. O que tinha acabado de dizer, não era sobre foda. Era sobre viver uma história junto, aconteça o que acontecer. Saber o que quer - e estar disposto a peitar o que vier - é o diferencial para o relacionamento sério.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O RETRATO DA REALIDADE

Ribeirão Preto, em suas primeiras horas matinais, já apresentava a luz do Sol intenso invadindo a cozinha de Leo, que se deleitava em seu módico café da manhã, rodeado pela realidade do momento. Aquela cidade era predominantemente quente e seca, bem diferente de onde morava. Ali não tinha praia, sequer um riozinho decente para recreação. O foco era o comércio. O atrativo turístico girava em torno do agronegócio, mas ele estava feliz. O sentimento de paz tomava conta. A dor não tinha desaparecido, estava sob controle por meio de uma aceitação tranquila.

Assim que terminou de comer o pãozinho com manteiga em meio à ultima golada do café com leite, ele pegou o celular e se levantou para uma selfie rápida. Aquelas singelas paredes, o notório calendário desatualizado e a geladeira formaram o cenário perfeito de um homem em reconstrução. Ali estava o retrato da retomada da vida como ela é. 

Olhando para a câmera, Léo sorriu ao conferir os cabelos incrivelmente curtos e diferentes do modo praiano. O homem na praia se encontrava bem distante agora. Tinha sido ele, mas, ao mesmo tempo, não era mais. Ergueu o polegar em um gesto de autoafirmação, o indicativo de que estava em paz. 

A vida em Ribeirão Preto, com sua rotina e seu calor, servia como um lembrete constante de que a felicidade não se encontra em lugares poéticos ou em relacionamentos perfeitos, mas na resiliência e na capacidade de se levantar após a queda. Ele havia aprendido a valorizar os pequenos momentos: o cheiro do café pela manhã, a geladeira branca e ruidosa, o calendário representando os dias que passavam, a vida que seguia e as oportunidades que apareciam. O polegar para cima, como fizera na foto, era um gesto simples que se tornara frequente, carregando o peso de toda a sua jornada. Era um "estou bem", um "estou aqui", um "consegui" e, talvez, o mais importante, era um "eu me amo". O seu sorriso, embora discreto, ia além da foto: era de alma!

Sob essa nova perspectiva, Leo foi ressignificando sua existência. Não queria saber de nenhuma outra história de amor, a não ser focar no amor por si mesmo. Colocando-se em primeiro lugar, redescobriu velhos hobbies, fez amizades e até se matriculou em um curso de fotografia. 

Capturar momentos se tornou sua nova paixão, uma forma de eternizar a beleza efêmera da vida, aquela que ele quase deixara de notar. As fotos refletiam seu estado de espírito: cores vibrantes, cenas do cotidiano, detalhes que antes passavam despercebidos. 

Ribeirão Preto, com sua luz intensa e seus cantos interessantes, se tornou um cenário rico e inspirador. Não havia prazer maior que trabalhar aquelas imagens, analisar, absorver a leitura de cada uma. Aquele relacionamento ruim foi engavetado no armário dos acontecimentos passados, vez que era lá, e tão somente lá, o seu lugar mais adequado, representando um triste, porém, importante capítulo, e não a história toda, vez que agora vislumbrava uma vontade infinita de viver. 

Talvez, em algum lugar, em algum momento futuro, possa existir um novo tipo de conexão, construída sobre uma base mais sólida de autoconhecimento e aceitação. Mas, por agora, ele estava bem. Completamente bem, em sua própria pele, em sua própria cidade, com suas próprias histórias para contar e fotografar.

domingo, 17 de agosto de 2025

A DIABA, A GATA E A MENSAGEM

Eveline Passos Rodrigues teria entrado para o mundo do crime após ser vítima de uma tentativa de feminicídio, assim diz o começo de uma matéria publicada por Caio Possati, às 19h27 e atualizada às 20h41 do dia 16 e Agosto de 2025, no portal de notícias do Estadão - clique aqui para ler 

Não vou desmerecer o escritor com suas informações, pois ele está cumprindo seu serviço jornalístico. Apenas quero refletir sobre essa motivação alegada, que diz que Eveline se tornou a Diaba Loira do crime após sofrer uma tentativa de feminicídio. Então, o que teria sido isso? Namorado irado? O dono da padaria a quem ela devia mortadela? Algum príncipe agiota revoltado? Não vi nada devidamente explicado logo após essa declaração, pois o que esses veículos querem é menos detalhamento do que julgam desnecessário e mais repetição daquilo que já vem sendo propagado por aí. Meu companheiro, quando era escrivão, já dizia que essa turma era apelidada carinhosamente de papagaios de plantão, pois cumpriam o dever de repetir, repetir e repetir. O teor que seguiu foi de que a mulher nasceu em Tubarão, Santa Catarina e morreu no Rio de Janeiro, que trocou uma facção por outra e blá-blá-blá. Se houve uma explicação maior a respeito dessa tentativa de feminicídio que lhe abriu as portas do crime, deve ter ficado em alguma parte além das irritantes publicidades que apareceram, me fazendo pensar que a matéria havia terminado. Quem sabe? 

Eu só sei que é muito comovente e parecida a origem da Mulher-gato no filme oitentista de Batman, dirigido por Tim Burton, onde a Celina (ou Selina), interpretada por Michelle Pfeiffer, é tão dócil e inofensiva que chega a ser patética, mas os patéticos sabem muito bem ser curiosos e descobrir o que não devem. Ela sofre essa tentativa de feminicídio ao ser empurrada de um arranha-céu e ser lambida por alguns gatos vira-latas da ocasião. Ela retoma a consciência e se dá conta do que aconteceu, de que o sistema lhe ferrou quando acreditava em flores e carinho para a regeneração de bandidos, que valeria a pena ser honesto, decente, cheio de valores e bons princípios. Percebendo que quase foi para o além e que esse sistema está cagando e andando para ela, surge então a mulher que é o oposto de tudo que Celina (Selina) sempre foi. Mas, na verdade, o que constatamos ao longo do filme é que esse lado sempre fez parte dela. 

Assim digo que a encantadora e inocente Eveline, que talvez tenha crescido acreditando no discurso da loira hipócrita que fala "querer, poder e conseguir" em seu programinha matinal, que talvez soubesse de cor e salteado a letra de Lua de Cristal, ela sempre teve essa "veia", digamos assim, em si. É do ser humano precisar de justificativas para explicar o que é de sua natureza. É claro que o sistema em que vivemos tem sua parcela de culpa, mas, quando escolhemos fazer algo ruim, significa que poderíamos ter escolhido qualquer coisa diferente também, mas ES-CO-LHE-MOS o caminho da vingança, da superioridade e do poder. Não deixa de ser triste. Lembrei de sad but true (Metallica) 

E se você acha que Eveline é uma exceção, eu já acho que estamos prestes a descobrir um ninho de mulheres envolvidas nesse tipo ação, ainda mais agora, que elas possuem supostos privilégios e, em alguns momentos, basta a sua palavra, sem qualquer comprovação. 

Essa realidade de mulheres no crime já foi mostrada em rede nacional no passado, pela personagem Bibi Perigosa (Juliana Paes) em uma novela de Glória Perez, autora que admiro porque se recusa a continuar sendo moldada pela agenda da moral e bons costumes que visa destruir toda forma de entretenimento que é considerada nociva. A última novela da autora ficou sem pé nem cabeça e ela brigou com a emissora após constatar mudanças em sua trama futura,  preferindo abrir mão dela, a se submeter às interferências supostamente necessárias. 

Pelos tempos estranhamente sombrios em que vivemos hoje, acho que muito mais está por vir. Não apenas por mulheres como Eveline, mas pela degradação de grande parte da população em geral - mulheres, homens, homossexuais, héteros, pans, pessoas com seus corpos e mentes em perfeito estado e também as que possuem determinadas especificidades. Prevejo um aumento perigoso de pessoas em alguma atividade criminosa de alto risco, pois o sistema está ruindo, os homens têm sua natureza ambiciosa pela sede de poder, então logo esse pessoal terá seus motivos para justificar suas escolhas que ajudarão a ruir com o país, e com o aval de um sistema que me parece estar com catarata, confundindo ratos com filhotes de cães ou gatos, alimentando-os em suas tetas, feito bebezinhos bênçãos de Deus no colinho da mamãe - bebezinhos que crescerão,  tornar-se-ão homens vistosos, atraentes e asfixiarão a própria mãe, sedentos que estarão por mais daquilo que recebem, mas a mãe não terá mais condições de suprir. 

Preciso deixar claro, hoje em dia, que não se trata, realmente, de homens e suas mães. Isso se chama metáfora. Se você precisou dessa explicação, nem sei o que faz aqui. Deve estar perdido de sua mãe. 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

ESSENCIALMENTE, À BEIRA-MAR



O fim de uma tarde à beira da praia pode ser emocionante. Daqueles dias em que até o Sol, nosso Astro-Rei, se manifesta a nosso favor nos proporcionando na medida certa seu calor que não castiga a pele e ainda permite gozar da brisa fresca do mar. 

Era um entardecer poético para Clarice. Ela caminhou com Charles, uns bons metros, até chegarem àquele local: uma parte sem movimento, onde algumas pessoas passavam aqui, acolá, não tão próximas. 

Charles foi quem teve a iniciativa de parar naquele ponto, sem nenhum motivo aparente. As mãos estavam dadas e ele simplesmente olhou para a areia em seus pés e parou. Clarice sentiu a súbita imobilidade pela mão dele segurando a sua, então também parou.

As mãos se soltaram, embora Charles ainda segurasse as próprias sandálias enquanto observava alguma coisa na areia. Eram resquícios. 

Ele se agachou e, ignorando um pouco da brisa refrescante, após analisar o que estava perto de seus pés, olhou para cima, em direção ao rosto delicado de sua amada, e perguntou:

-- Você consegue ver esse amontoado de coisinhas aqui?

-- Parece um amontoado de conchinhas. Algumas são bem pequeninas.

-- Exato. E você sabe o que elas têm em comum conosco?

Clarice franziu o cenho, até se pôs a pensar, mas se rendeu ao que ele tinha a explicar:

-- Essas conchas são a prova cabal da existência de alguém.

-- Você falando assim, Charles, até pareceu se tratar de alguma pessoa.

-- Em relação a uma pessoa, cada uma dessas conchas seria como o esqueleto de um ser humano. Já pensou? A gente estaria se deparando com um cemitério. 

Ele riu. Aquela risada breve de um segundo, como quem achou graça no que acabou de expor. Clarice, porém, não achou a menor graça. Queria saber aonde ele iria chegar com tal história.

-- Você, Clarice -- Charles falou, após contemplar um pouco mais aqueles fragmentos aparentemente tão insignificantes e inofensivos. -- Você nasceu criança. Deve ter sido mimada e birrenta em toda a adolescência, para o desespero de sua mãe.

-- Ah, pronto! E você já deve ter saído entorpecido de dentro da sua, com uma vontade louca de beber, só que não o leite marterno, talvez um corotinho de pinga no bar mais próximo da maternidade.

Ele riu, voltou a olhar para as conchinhas, então falou:

-- Aí você foi crescendo, se desenvolvendo, seu corpo todo foi mudando, se fortalecendo, certo?

-- E daí?

-- E daí... -- ele se levantou e fixou seu olhar aos olhos dela, um tanto impacientes pelo término do que ela já considerava uma palestra. -- Você se transformou nessa mulher linda e gostosa que é. -- Os braços foram se envolvendo com cautela ao corpo dela. -- E vai ficar comigo a vida inteira. E quando você ir, minha cara, o que é que vai restar? O seu esqueleto. Ele é a testificação da sua existência.

-- Até virar pó -- ela disse, sentindo o hálito quente dele fazendo com que sua própria boca ficasse seca diante daquela face máscula agora tão perto e vislumbrando além de seus belos globos oculares.

Charles não se cansava de admirar aquela beleza venusiana, agora acarinhada pelas suas mãos. As duas, pois as sandálias ficaram no chão.

-- Essas conchas, sabe, elas um dia foram o habitat, a espinha dorsal, a base da vida de alguém. Eu me refiro a um tipo de molusco, é claro, mas é um ser vivo que talvez tenha tido alguma importância no universo em que viveu. Quem é que sabe dos segredos da vida no mar? Esses seres tiveram sua existência e agora se resumem a isto aqui: meras carcaças de cálcio que vão se desfazendo aos poucos, entregues à ação da natureza, decompondo-se, integrando-se a essa areia. 

Clarice permaneceu em silêncio. Os olhos dele penetraram o avesso dela ao dizer: 

-- E assim é a nossa vida, bebê. Só que eu acho o nosso universo, como seres humanos, tão mais interessante. Podemos fazer tantas coisas, desfrutar do mundo inteiro. 

Charles sorriu em meio ao súbito silêncio onde o barulho das águas era música para a alma. 

Clarice tomou a iniciativa de envolver seus braços aos ombros dele, com delicadeza, mostrando sua receptividade em relação a algo mais que ele desejava lhe dar. 

Os lábios se uniram. A brisa refrescante regulava o calor da atratividade corporal. Eles foram se tocando, se acariciando, se sentindo... de acordo como o momento fluía. 

Ele, apenas de bermuda. Ela, um vestido florido. 

Suas vestes não foram empecilho. 

Ela pegou a carne dele e a introduziu dentro da sua. 

Os corpos ficaram literalmente ligados e eles se entregaram àquela vontade mútua.



Levei cerca de três dias para fazer este conto. Eu mesmo, sem nenhum tipo de IA. A inteligência artificial está nas imagens (é claro!) que o Ideogram fez, de acordo com o que pedi (configurei). As imagens dele vieram primeiro, a inspiração do conto surgiu a seguir, depois vieram as imagens dela. Clarice e Charles: nomes que escolhi em homenagem ao mercado literário.

terça-feira, 29 de julho de 2025

POESIA COLETIVA

Como uma imagem consegue mexer com o interior das pessoas. A seguir, a expressividade de alguns amigos que aceitaram colaborar -- também de algumas IAs.


O barco segue seu rumo.
A correnteza o leva.
Eu sigo junto.
Sem saber o rumo final.
Deixo que o rio me leve.
A lua está cheia.
Uma bola alaranjada,
ainda iluminada pelo sol poente.
Aos poucos a noite virá.
Mas não será escura.
A luz da lua ainda estará refetindo
nas águas escuras deste rio
que parece não ter fim.
O barco segue seu rumo.
e com ele, a lua a nos guiar,
sigo eu.
Para onde?
Hoje nada importa.
O que importa é seguir
até que, quem sabe,
um novo dia amanheça.

Duda Neutzling
Florianópolis/SC
27/07/2025
18:53

Seguir além
 
Seguir além é
Preciso
Imperativo
 
Olhar pra frente é
Necessário
Revolucionário
 
Não importa sequer
Situação
Condição
 
Ninguém desvia o
Rio de
Seu curso
 
Não importando
o tempo
nem o vento
 
Além do horizonte
Há futuro mesmo
Que impere a solidão
 
O importante
É seguir
Sempre além

CatiahôAlc.
27/07/2025
20:59

BARCO NA ÁGUA

Sou como o pequeno barco
Silencioso e pacato 
Experimentando o molhado
Da água calma que tem me banhado

Revigorando os meus dias
Criando as expectativas
Avançando na vida

Fera alimentada ou ferida?
Vai depender da questão resolvida
Realização ou frustração?
Dois caminhos, uma decisão

Como vai conduzir seu barco?
Com alegria, força, fé, o eu motivado?
Ou com tristeza, fraqueza, um certo desamparo?

Algo está à sua espera, mais à frente
Um evento importante?
Quem sabe, uma festa cheia de gente?
Talvez a calmaria lhe seja mais interessante

A água que acolhe meu pequeno barco
É a mesma por onde você tem passado
Mas o que temos dela é diferenciado

Ela me oferece, favorece
O que tenho de ir buscar
Ela é o caminho, não apenas uma trajetória 
Nela eu sigo e vivo e logo viro memória

Fabiano Caldeira
Ribeirão Preto-SP
27/07/2025
Deste blog

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Em vasto rio de águas calmas e serenas,
Um barco singra, levando um só a bordo.
Nas brumas tênues, montanhas emergem plenas,
E o céu noturno um véu de mistério acorda.

Lá em cima, a lua, um sol de prata ardente,
Derrama luz dourada em tons de tangerina.
Seu brilho pinta a cena, cálido e envolvente,
Refletido no espelho d'água, que fascina.

Uma árvore solitária, de galhos a estender,
Contempla a cena em silêncio, quase um vulto.
O ar se adensa, um sonho a acontecer,
Nesse remanso onde o tempo é oculto.

Quem rema sabe o destino ou o acaso?
Em busca de quê, sob a luz tão forte e rara?
Em cada traço, um conto, um novo traçado,
De uma jornada na imensidão que não para

Gemini AI
Google
27/07/2025

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"Noite de Lua Inteira"

Remando em silêncio, no espelho do rio,
o homem e a noite se tornam um fio.
No chapéu repousa a calma do tempo,
no coração, um velho lamento.

A lua — tão cheia, tão próxima e viva —
parece escutar a alma cativa.
Surge imensa, dourando o caminho,
como um farol guiando o sozinho.

As árvores sussurram segredos antigos,
as águas guardam seus ecos, seus mitos.
E o barco desliza, sem pressa ou receio,
num mundo que dorme sob o branco anseio.

Montanhas em sombra, a vigiar de longe,
silêncio de templo, de prece, de monge.
O tempo ali pára, respira e observa
o homem que rema, a vida que reserva.

E talvez nem vá — só queira ficar,
onde o luar ensina a não se apressar.
Pois há noites que dizem mais que o dia:
a dor, a paz... e a poesia.

ChatGPT AI
OpenAI
27/07/2025

Espero que tenha gostado da postagem. Seria legal fazer essa atividade mais vezes. Quem sabe?

sexta-feira, 25 de julho de 2025

DIA DO ESCRITOR - NÃO HÁ O QUE COMEMORAR

Hoje é o dia do escritor. Não vejo motivos para comemorar.

Existem escritores que ganham seu salário ao abastecerem os portais de notícias da internet, assim como os que registram ocorrências de diversos crimes praticados contra o seu semelhante. Entretanto, quando se fala na palavra "escritor", o que vem à mente são os autores de livros, contadores de histórias de ficção ou documentários da vida de alguém ou de algum fato. E é sobre esse tipo de escritor que prefiro focar quando digo que não há motivos para se animar. 

Ele tem material para produzir seu livro. E quem escreve há algum tempo sabe o quão solitário e trabalhoso é o processo da produção do conteúdo de um livro. Se os fatos existem ou são inventados, isso pouco interessa no que  diz repeito à organização do conteúdo no momento em que é colocado. 

Horas e horas sentado em frente a uma tela e digitando em um teclado, esperando que o processador da máquina dê conta do recado. A rotina se repete por dias, semanas, até meses e meses. Escrevendo, lendo, relendo, reescrevendo e repetindo todo o ciclo e, depois, tudo outra vez. 

Então, levando-se em conta que a publicação já é certa, que não precisa se preocupar com esse detalhe, o livro estreia para... ninguém. Após todo um trabalho onde a vida se passou ao seu redor, as estações do ano mudaram, pessoas se conheceram, se amaram e procriaram, outras se foram e não voltarão, o livro lançado não é de conhecimento de ninguém. Mesmo que seja, as prioridades de redirecionamento monetário não tornam prioritária sua aquisição.

Ninguém vai morrer de fome porque deixou de comprar um livro. Ainda nesse raciocínio, ninguém vai superar uma doença, nem reinventar a roda, muito menos usufri-lo como fonte de entretenimento, pois muitos são criados para  essa finalidade, cegando-se em relação às tendências de predominância massiva do audiovisual com cada vez mais tecnologia, cores e efeitos, fazendo do telespectador o participante do que decorre à frente de seus olhos.

O livro digital, hoje reconhecido como "ebook", tem como alvo os adoradores da tela. Agora é possível ler Stephen King, ou as poesias de Fernando Pessôa, diretamente na tela. 

Mas, quem quer? 

Os números de leitores estão cada vez mais reduzidos. Algum trabalho é feito para apresentar a leitura às pessoas, mas o feito é perdido diante daqueles que se envaidecem e querem estipular o que consideram boa literatura. A pessoa descobre que aquilo que ela lê é classificada como lixo. Como você se sentiria ao estar no lugar dela?

Os superleitores superotimistas também não ajudam. Eles são repletos de boas intenções, é verdade, mas mostram um mundo que não é para todos, mas, sim, a quem se dedica a esse mundo da escrita. O carisma, o sorriso, a empolgação, o ato (de mostrar tantos títulos chegando) atira para longe a afinidade das pessoas, pois elas não se enxergam ali. A vontade de ler não vem. 

E a vontade é algo muito complicado e difícil de se lidar. Por mais que tentem fórmulas, ações e eventos para estimular nas pessoas vontade de ler alguma coisa, a realidade é que a culpa pode não ser de nenhum dos superleitores, muito menos de quem se gaba pelos livros realmente literários que possui e julga mal os outros, a culpa pode não ser de nada, nem de ninguém, a não ser do próprio indivíduo que não tem, em si, a vontade de ler um livro. 

É complicado. Ao mesmo tempo em que essa baixa literária parece ser responsabilidade de todo mundo, ela pode não ser da conta de ninguém. O tempos são outros. Como lidar com a vontade, ou melhor: a falta da vontade de ler um livro nesses tempos contemporâneos?

Para terminar, coloco um vídeo que fiz hoje, direcionado especialmente a quem deseja se aventurar como escritor(a) iniciante. Se é o seu caso, prezado(a) escritor(a), preste atenção na dica valiosa que eu dou.

Um abraço, até a próxima postagem.


 

quinta-feira, 24 de julho de 2025

CALVIN E HAROLDO - DOC DE COLECIONADOR

Ludy Pereira é um radialista conhecido que mora em Santa Cruz do Sul, que tem feito vídeos (no YouTube) mostrando sua coleção de livros e quadrinhos. O canal que tem o seu nome trata de leituras e livros, já o canal "Calvin & Haroldo Para Sempre" traz postagens do universo de tirinhas criado por Bill Watterson e que até hoje tem fãs pelo mundo inteiro.

O que me chamou a atenção foi o vídeo recente em que Ludy postou sua coleção de Calvin & Haroldo. Ele tem cerca de uma hora de duração e mostra exatamente tudo o que possui do material. Antes de clicar para assistir, cogitei ver apenas metade e deixar a outra metade para mais tarde, só que a maneira como ele conduziu a explanação me deixou confortável, pois, cada livro mostrado teve sua curiosidade, sua devida informação, desenvolvidas espontaneamente, como se conversasse com seu melhor amigo, então foi bem agradável permanecer em sua companhia durante aquela hora inteira.

O video consegue ser tão interessante, repleto de conhecimento sobre o autor e o mercado editorial dessas obras, que resolvi compartilhar aqui, porque é da minha vontade que todo mundo saiba. Se você ainda não conhece os quadrinhos de Calvin & Haroldo, vale muito à pena ver esse vídeo que ele produziu com uma qualidade impressionante. Se você já conhece, vai se sentir em casa, mais do que familiarizado com cada item da coleção e a conversa legal que vai se desenrolando.


Quando se fala de Youtube, é sempre bom lembrar que o gesto de curtir o vídeo e comentar alguma coisa, lá, ajuda a fazer com que o sistema veja que o canal é importante, que o conteúdo tem valor agregado. Isso ajuda ao canal a ser recomendado para mais gente.


Um abraço, até a próxima postagem!

sexta-feira, 18 de julho de 2025

TORNOZELEIRA NELE!

Ontem, antes de ir dormir, escrevi um desabafo na guia comunidade do meu canal de conversas no YouTube, porque me encheu o saco ver matérias em torno de Bolsonaro, querendo vitimizá-lo. Bolsonaro pode ser tudo, conseguiu ser até presidente do país, mas vítima ele não é.

O curioso foi que acordei hoje e tive a surpresa de saber que ele recebeu a visita da polícia federal e ganhou uma tornozeleira eletrônica. Claro que me lembrei do texto de ontem. Se eu fosse um famoso, iria "me achar", convicto de que teria, o texto, algo a ver com isso. Mas sou uma poeirinha desconhecida, praticamente inexistente naquela plataforma, então esse gostinho não posso me dar.

O que eu penso, na verdade, é que posso ter captado esse negócio antes de acontecer.

A seguir, a reprodução do texto que escrevi. E, sim, ainda creio que Bolsonaro tornar-se-á elegível para 2026.

E DAÍ?

Bolsonaro é visto abatido e chorando...

Tá com chorinho, é? Tá com medinho? E daí? 

Não é mais presidente. Não é  mais nada. 

Por que agora não pega a merda da moto e sai fazendo motociata? Foi só na época em que estavam morrendo centenas de pessoas todo dia, que lhe batia a valentia? 

E daí, né? Você dizia. 

Pois é.  Agora eu que falo: E daí?

E daí,  meu caro? E daí?

E não quero a esquerdalha vindo babar ovo, não. Curte o post só quem não é cadelinha de político nenhum. Essa cambada de ratos.

E esse sistema é tão besta que tudo leva a crer que ele será mesmo candidato. Tô só vendo aonde isso vai dar. Tem muito teatro nisso daí. Um grande teatro. O cara não tem sequer uma tornozeleira. Sequer um fiscal para monitorar seus caminhos pela rua. Se ele ir visitar a Argentina, em algum dia, acabou. Ninguém o pega mais. Ele ainda não fugiu porque não quis. 

E correr o risco de perder as mordomias do nosso sistema? Jamais, né? É tão bom chorar com a conta cheia de grana.

"Dinheiro não traz felicidade"

Verdade, mas é tão bom reclamar da vida de bolso cheio e com poder, né?

terça-feira, 15 de julho de 2025

75 ANOS DA REVISTA DO PATO DONALD

Neste mês de Julho, comemoram-se os 75 anos de publicação da revista em quadrinhos (também chamada de "gibi") do Pato Donald. O primeiro exemplar foi em 12 de Julho de 1950, pela editora Abril, onde permaneceu até o final da empresa, com a última edição, n° 2481, referindo-se ao mês de Junho de 2018. A Culturama assumiu a publicação dos gibis Disney, logo no começo de 2019, mantendo o título do pato, mas reiniciando sua numeração, começando pelo número 0 em Março. Porém, na página de expediente, constam o número da edição pela Culturama e o número real da continuidade: 2482. Acredito que até hoje seja assim, o que considero muito bom.

"O Pato Donald" já foi quinzenal, semanal, mensal, começou com um formato imenso, mudou para o antigo formatinho, migrou para o formartinho conhecido e mantido até hoje, tirou a letra inicial "O" do título, também variou muito quanto ao número de páginas, terminando com 52, na Abril (um padrão consolidado há muitos anos) e recomeçando com 68, pela Culturama.

A primeira edição, em 1950, já começa com o fato curioso de o pato estar com Zé Carioca, sendo que, atualmente, os universos são distintos. O gibizão tem quarenta páginas e abre com a história clássica "O Segredo Do Castelo", de Carl Barks, o desenhista e roteirista mais prestigiado de todos os tempos, no universo dos patos disneyanos.

Preparei com carinho um vídeo que mostra todas as páginas da revista. Para assistir, clique aqui

Fontes de pesquisa:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pato_Donald_(revista_em_quadrinhos)

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/pato-donald-o-n-1/ptd0031/14324

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/pato-donald-o-n-2481/ptd0031/139906

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/pato-donald-n-1/pa19211/145467

quarta-feira, 9 de julho de 2025

THE MOUSE TRAP - O PODRÃO DO MICKEY

Dias desses, estava procurando filmes no You Tube e dei de cara com uma produção trasheira do Mickey, intitulada "The Mouse Trap".

Sério?!

É. O que acontece é que a versão do Mickey de 1928 está em domínio público. Isso quer dizer que o personagem pode ser utilizado sem pedir autorização à Disney, o que dá margem para a criatividade correr solta, principalmente a provocativa.

"The Mouse Trap" é um filme de 2024 no estilo slasher (matança estúpida). No começo, a produção já deixa bem claro que a Disney não tem nada a ver, que é uma equipe independente e blá-blá-blá. Depois de tudo esclarecido, a história começa mostrando um cenário diverttido para jovens e bastante cansativo para as funcionárias exaustas que queriam ir embora, mas, um pouco antes do final de expediente, vem o patrão informar que precisarão ficar mais algumas horas, por causa de uma turma que alugou o espaço para uma festinha. A contragosto, elas ficam. Na verdade, só uma acaba ficando. A outra dá um jeito de se ausentar, na maior malandragem. A turma que alugou o espaço chega e a trama vai deslanchando.

Para minha surpresa, a imagem do filme apareceu muito boa para mim. A dublagem, idem, só que há muitos palavrões, então digo logo para que tirem as crianças de perto, pois muitas palavras cabeludas são pronunciadas sem poupar a quem vê. Eu gostei, achei interessante (por se tratar do Mickey), pois o gênero trash/slasher costuma ter meu apreço. É claro que o Mickey é um homem vestido com uma fantasia. Poderiam ter trabalhado um pouco isso, para o entendimento melhor (ao telespectador) acerca do personagem, como foi com a trasheira do Ursinho Pooh, por exemplo, onde ficou claro que o personagem era o resultado de uma experiência genética mal-sucedida, por isso foi abandonado no bosque, assim como seus amigos. Mas isso, quem sabe, talvez eu comente em um outro post -- ou não.

Clique aqui para ver o filme no YT

segunda-feira, 7 de julho de 2025

OS BARBADOS


O primeiro Mickey, de 1928, está em domínio público. Note que ele é preto e branco, usa o shortinho e não tem luvas. Qualquer pessoa pode usar livremente essa versão, sem precisar de autorização. Isso deu margem a um filme que descobri recentemente, bem trash, onde o Mickey mata uma porção de gente. Mas prometo falar nisso em outro post.

domingo, 6 de julho de 2025

POR QUE ADERI AO DOMÍNIO PRÓPRIO?

Ao anunciar, no final da postagem da festa junina, que este blog agora tem domínio próprio, um amigo querido, blogueiro, excelente escritor e profissional da educação (que inspira atenção dos governantes) me perguntou sobre a vantagem de ter um domínio próprio.

Não faz muito tempo, ele me encaminhou uma notícia de um site informativo cujo nome era bem parecido ao que mantém há muito anos em seu blog. Parecido não é igual. Ainda bem, pois, se fosse, não poderia fazer nada a respeito, se quisesse. Certamente, o site jornalístico tem o domínio registrado. Já o amigo, apesar de usar seu blog desde muito antes, correria o risco de ter que mudar. 

O domínio próprio garante que o título seja seu. 

Ainda nessa hipótese, a possibilidade de haver algum conflito, se os nomes fossem iguais, é quase nula, pois acredito que nenhum dos dois lados esquentaria a cabeça com isso, vez que um site seria, por exemplo, "marreta.com.br", e o outro, "marreta.blogspot.com". Ambos conviveriam 'de boa', mas qual  você acha que ganharia um olhar mais respeitoso, em qual você acha que um leitor daria maior credibilidade imediata? Não tenha dúvidas de que seria o "marreta.com.br". 

Não estou dizendo que o outro não teria respeito nem credibilidade, estou me referindo ao imediatismo de um leitor que se depararia com os dois links para clicar e conhecer. A possibilidade de clicar no "com.br" é maior. Depois, ele poderia visitar, sim, o outro e até gostar mais dele, poderia xingar o anterior e dizer que não passa de midiazinha elitizada, comprada etc. Mas, veja que, até isso ocorrer, o internauta viu primeiro o que não gostou e, para preferir o outro, teve que ver os dois. Nem sempre o cidadão verá os dois. Ele tende a priorizar o que mais atrai.

É como você ver uma pessoa bonita e uma feia. Não, você não quer namorar. Você está livre 'na pista' e deseja apenas um momento gostoso. Vai querer quem? A pessoa que acha bonita ou a feia? Muitas vezes, a feia pode ser bem mais interessante e ter a tal pegada que a bonita jamais teria, mas você só está com fome, então o bife mais vistoso lhe parece mais apetitoso. Se me disser que não, está mentindo, seu sangue de morcego!

Será que consegui explicar? Não sou bom para essas coisas. A vantagem, se podemos dizer assim, está em mexer com a pessoa, no sentido de você ser olhado com um pouco mais de credibilidade. Você mesmo, prezado escritor que tem seu blog há anos com um conteúdo ímpar à machosfera, espanta-me você não ter seu próprio domínio, pois ele simboliza um carinho a mais para o seu blog, mostrando que você dá total importância ao que coloca nele. Eu sei que não precisa mostrar nada a ninguém, mas é algo que, na Internet, soa automático aos demais: o carinho, o zelo, a importância que você promove ao seu espaço, ao próprio conteúdo. Não considera importante botar uma roupa adequada para passar o dia no trabalho e transitar aonde quiser, sem problemas? Então. Não é salutar escovar os dentes, passar um desodorante no calor de nossa Black River, que não é fácil? É a mesma coisa. 

Com o domínio "blogspot.com", eu seria a mulher que apareceria com a roupa inadequada na missa e atrairia olhares distintos, ainda que eu não fosse 'uma dessas'. Com "com.br", eu sou a senhora que sabe como se vestir para uma missa, ainda que depois eu vá brincar com os cavalões de meu carrossel. Captou?

É só um detalhezinho bobo, mas é bom para quem preza pelo que produz.

No meu caso, eu uso blog desde, sei lá, 2007 ou algo parecido, até hoje há quem se lembre do antigo Socializando: um blog que eu mantinha na brincadeira -- nunca o levei a sério, apesar de ter me consumido horas em muitas postagens, pois sou do tipo que, já que vai fazer, que faça bem feito. Mesmo o Socializando nunca ter tido domínio próprio, há quem se refira a ele com carinho. Hoje penso que, se eu tivesse dado um domínio próprio a ele naquela época, talvez meu alcance teria sido maior. Eu me recordo que algumas pessoas me reconheceram, assim que botei os pés na primeira Comic Com realizada em Santos, no ano de 2013. Levei um susto e fiquei na defensiva, pois jamais estava preparado para aquilo -- achei seria mais um anônimo entre tantos. Foram poucos os que me "enxergaram", na verdade, mas fiquei feliz. Talvez teriam sido mais, se eu tivesse levado o blog a sério naquela época. Talvez eu tenha jogado fora uma chance de ter crescido mais. E não foi a primeria vez que desperdicei uma oportunidade.

Antigamente, eu postava na Internet como uma pessoa que estava experimentando as coisas, um tanto curiosa, ingênua, um iniciante que não se considerava bom o bastante e queria ver, explorar, observar, aprender... Acho que a isso se atribui a alcunha de neófito, talvez -- uma espécie de observador e aprendiz ao mesmo tempo. O tempo passou, eu vi muita coisa (digamos, fora do meu apreço) considerada profissional ou de alto talento. Algumas me deixavam pasmo. Eu me perguntava: "Mas, como?! Isso é ruim pra kharáleo!". Um dia, sei lá quando, caiu minha ficha. Demorou! Talvez tenha caído tarde demais. Hoje eu sei que, em comparação a muitos por aí, eu sou um dos melhores. Mas, e daí? Eu sou uma pessoa desprezível, nao sei manter conchavos, nem assumir certos compromissos. Então o jeito é seguir vivendo um dia de cada vez, do jeito que for possível. 

Espero ter esclarecido sobre a importância do domínio próprio. Custa baratíssimo no Registro.br. Mas já alerto que configurá-lo não é nada fácil. 

Um abraço, até o próximo post, que será de quadrinhos.


quarta-feira, 2 de julho de 2025

POÉTICO - A BOLA DO MEU SACO

A bola do meu saco vive oculta.
Quanto estou pelado,
Ela está peluda.

A bola do meu saco é danada.
Quando é estimulada, 
Solta cusparada.

A bola do meu saco me permite amar,
Estruturar a minha vida,
Para um outro de mim cuidar.

A bola do meu saco me traz emoções,
Que são materializadas depois,
Em minhas novas versões,

A bola do meu saco não me define ao todo.
Eu sou muito mais, sou uma pessoa,
E meu sentimento de amor não é à toa.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

FESTA JUNINA REBORN

Há muitos anos, era tradição minha vó paterna reunir os filhos e suas famílias para o terço de São Pedro. Eram muitos tios e primos, então a casinha (que é onde moro hoje) ficava lotada, pois vinham os vizinhos também, tão amados pela minha avozinha. Até os chatos.
 
Tinha quentão, pipoca, bolo, uma porção de coisas e, claro, tudo após rezarmos os cinco mistérios do terço mariano. A gente não se dava conta, mas é quando a gente perde que percebe que esperávamos o ano inteiro pelo evento. Minha avó se foi, sei lá, tem quase vinte anos.
 
A questão é que uma das tias faz aniversário justo nessa data, então, neste ano, as filhas resolveram organizar uma festinha na própria casa dela, em uma coábi das antigas, que tem quintalzão na frente e atrás. Ela fez até uma edícula e alugou -- muito diferente dos poleiros de pombos que constroem hoje em dia e chamam de "Minha Casa, Minha Vida".

Não teve mais o terço, pois muitos viraram evangélicos, mas a ideia da festinha junina permaneceu. Levei um tanto de pãezinhos recheados com patê, minha mãe e minha irmã levaram bolos e tortas. Chegando lá, que susto! Já tinha tudo! Uma porção de enfeite de São João, mesas temáticas onde ficaram as guloseimas e até o povo estava a caráter. Que chique! Se minha avó estivesse viva, teria amado, até porque as netas, Isabela, Carol e Giovanna estão mulheres. Quando ela partiu, eram criancinhas.
Claro que teve muita gente, claro que relembramos os tempos antigos e claro que ficamos tristes porque estamos todos velhos, então muita gente reclamou de muita coisa (dor aqui, não consigo dormir, tal posição me faz passar mal etc.). Só não foi mais agradável porque a gente não tem assunto para falar com a parentada, né? Então fica aquela coisa onde um começa a falar da vida do outro (de quem não está, quem sumiu porque ficou rico, casou, faz festa, não chama, mas põe tudinho no fêice, essas coisas). E chega o momento em que não tem como falar mais dos ausentes, então o jeito é falar uns dos outros. E eu sou aquele que não tenho nada para falar. Se eu contar que tenho blog, canal no Youtube, Instagram, nenhum deles fala nada sobre isso. 

E não é que uma prima minha fez questão de conversar comigo sobre os "Contos de Bebê Reborn"? Para minha total surpresa, ela leu e adorou, principalmente o conto "Pacote de Presente". Eu ri. Por que os leitores gostaram tanto desse conto?! Falei isso a ela, que as pessoas que leram sempre dizem que é um dos contos favoritos, então tive uns feedbacks que me fizeram ver onde acertei nessa história. O escritor de hoje fica muito preocupado com tramas mirabolantes e se esquece de trabalhar os personagens. Se o leitor não se envolver com eles, não há reviravolta que dê jeito.

Engraçado que o "Tábatha, A Influencer", aparece em segundo lugar, meio que no esquema "gostei desse também". A questão é que os anteriores eram bem mais curtos. Fiquei com a impressão de que, se eu tivesse trabalhado mais aqueles contos curtos, talvez a imersão dos leitores teria sido incrível também. Mas o "Bia" não foi tão curto e, ao contrário do que imaginei, ele não conseguiu obter a mesma relevância. É um desafio mexer com a cabeça de vocês, leitores, mas tive um norte importante sobre trabalhar melhor os personagens ao longo da história. 
Se você gosta de ler, mas ainda não conheceu os meus "Contos de Bebê Reborn", você é um sangue de morcego, cabeça de avestruz reborn. Ah, Ah! O ebook está na Amazon, gratuito para quem tem Kindle Unlimited ou pagando o preço extorsivo e desavergonhado de 5,99 -- clique aqui

Para terminar, gostaria de falar que o blog evoluiu e passou a ter domínio próprio:

Sim, é o mesmo nome do meu canal de conversas no YouTube. Se você ainda não o conhece, faço o convite para um dia me visitar lá.
 
Fico feliz pelos que dão seu tempo aqui, no YouTube e nos meus ebooks. Muito obrigado!
 
Um abraço, até a próxima postagem! 

O PESCADÔ E A SEREIA

Vi um post no blog do Jotabê falando em prosa de pescadô e me motivei a colocar uma aqui. Um pescadô, uma vez, disse que jogou a vara e p...