segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O QUE IMAGINO DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Hoje eu quero falar do escritor Luís Fernando Veríssimo, que morreu em 30 de Agosto de 2025, já tinha 88 anos e sofria de várias complicações, então posso dizer, sem pesar, que ele descansou e curtiu a vida como foi possível -- sim, pois, por mais otimista que seja um homem das antigas, se ele preza por sua família, ele sempre terá momentos de intensa frustração e cometerá erros talvez inexplicáveis, porque às vezes é preciso manifestar o peso de ser o provedor de todos os seus. Ainda que a esposa trabalhe e os filhos estejam criados e vivendo suas vidas em outros lares, formando suas próprias famílias, um pai das antigas sempre toma para si o fardo pesado de ser o provedor de seu lar e de quem ele se sente responsável, mesmo que esse alguém não more mais lá. Então, o viver intensamente de homens como Luís Fernando Veríssimo é bem diferente do viver intensamente dos homens de hoje, que não estão nem aí para um trabalho estável onde podem se aposentar e, por meio dele, obter namorada, mulher, carro, casa, filhos, um cachorro, juntar tudo e chamar de lar. 

O homem de hoje quer beijar, mas não quer se compromissar, quer amar, mas não quer tomar para si a responsabilidade de cuidar do(a) outro(a), quer ser feliz com ele(a), mas decide cair fora antes de ter maiores problemas pelos quais julga não precisar arcar. O homem de hoje não quer se ver trabalhando eternamente na mesma empresa, nem se sentir escravo, subalterno, inferior em seu trabalho. Ele quer dar sorrisos e manter a endorfina nas vinte e quatro horas do seu dia. Acha que a vida é um bem-estar constante, que o sofrimento, a rejeição, o constrangimento e a resignação servem para os outros aprenderem alguma coisa, mas nunca para si. Quando passa por alguma situação difícil, alguma provação, ele já não sabe o que fazer, se sente fraco demais, prestes a sucumbir. Não entende, ou melhor: não quer entender que a vida não é um eterno pátio colorido de coisas bonitas que sorriem e atendem suas expectativas. 

A impressão que eu tenho é que os homens de hoje despertam bem mais tarde para o que realmente é a vida. Alguns nunca despertarão. Comportar-se-ão como eternos jovens de dezoito a vinte e cinco anos, achando que a noite do fim de semana foi feita para frequentar barzinhos, boates e terminar com uma carne gostosa ao seu lado na cama -- algo que sempre foi o sonho de todos os antigos, ou da maioria, eu acredito. Sim! Muitos desejavam poder esticar a fase da juventude em que gozavam da vida. Então eles acordavam e tratavam logo de cuidar da realidade, que era diferente, mas não menos interessante.

Luís Fernando Veríssimo foi um escritor, roteirista, humorista, cartunista, dramaturgo, publicitário, músico, em uma época onde as mulheres não tinham todos os privilégios de hoje, nem os filhos, nem a sociedade proletária, então a pobreza, a ilusão e o romanceamento da fuga pelas responsabilidades da vida não ultrapassavam as páginas de papel, pois, se ele vivesse feito um alienado, certamente decairia em seu patamar de vida, levaria toda a família a essa queda e sofreria muito pelas mazelas sociais antes de ser agraciado por algum tipo de benefício atual que o permitiria sobreviver com uma corda no pescoço a todo momento. Quero dizer que, em seus tempo áureos, ele teve colhões para correr atrás de suas realizações, que cada conquista foi adquirida com os pés no chão e muito esforço, capacitando-se, exercendo suas aptidões, peitando dissabores, conflitos, provações, continuando a seguir em frente com medo mesmo, ou com raiva, sem tempo de ficar pensando demais na morte da bezerra, ou achando isto ou aquilo. 

Filho de Érico Veríssimo, exímio escritor cujo conteúdo de "Olhai os lírios do campo" eu vi fracionado desde cedo em livros diáticos da língua portuguesa em minha escola primária, ele certamente deve ter atraído olhares reprovadores de quem achou que a vida lhe deu regalias e privilégios. Se isso aconteceu, e daí? Cada um luta pelo seu espaço neste mundo utilizando-se dos recursos de que dispõe. O que importa no homem em geral, para se avaliar o quão significante é (ou foi) a sua vida são os valores, os princípios transmitidos e se o seu trabalho exercido teve um bom resultado a outrém. Eu acho que Luís Fernando Verísimo se encaixa nisso. O homem tímido que deu um jeito de se comunicar. A pessoa séria que soube fazer graça. Eu não conheço nada dele. Uma vez, li uma de suas obras, os tais contos de Ed Mort, e não "conversou" comigo naquela época, talvez porque eu estava passando por uma porção de coisas, ou talvez porque realmente não haja afinidade. Mas eu sou uma pessoinha errante que se esforça em continuar sendo um leitor quando tudo me desanima, quando todo santo dia eu vejo um estímulo para abandonar esse hábito. O que eu quero dizer é que eu não sou parâmetro e que pessoas com mais alegria de ler, que possuem mais intimidade nesse meio literário, não apenas podem discordar de mim, como, certamente, já leram outras obras dele em algum momento de suas vidas. 

É só isso o que eu gostaria de dizer. Acho que falei uma porção de bobagens, mas é que todo mundo já falou o que deveria ser dito, então eu não queria, agora, simplesmente fazer o papel de um papagaio. Que me perdoem se viajei demais. Foi a imaginação que falou mais alto. Eu não queria deixar passar em branco, como foi a um monte de outros autores, pois a escrita do Luís Fernando, do pouco que vi, foi essencial para a comunicação mais popular e coloquial que predomina agora.

Um abraço, meus caros! Se você leu algo do autor, coloca aí nos comentários.

O QUE IMAGINO DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Hoje eu quero falar do escritor Luís Fernando Veríssimo, que morreu em 30 de Agosto de 2025, já tinha 88 anos e sofria de várias complicaçõe...