quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O RETRATO DA REALIDADE

Ribeirão Preto, em suas primeiras horas matinais, já apresentava a luz do Sol intenso invadindo a cozinha de Leo, que se deleitava em seu módico café da manhã, rodeado pela realidade do momento. Aquela cidade era predominantemente quente e seca, bem diferente de onde morava. Ali não tinha praia, sequer um riozinho decente para recreação. O foco era o comércio. O atrativo turístico girava em torno do agronegócio, mas ele estava feliz. O sentimento de paz tomava conta. A dor não tinha desaparecido, estava sob controle por meio de uma aceitação tranquila.

Assim que terminou de comer o pãozinho com manteiga em meio à ultima golada do café com leite, ele pegou o celular e se levantou para uma selfie rápida. Aquelas singelas paredes, o notório calendário desatualizado e a geladeira formaram o cenário perfeito de um homem em reconstrução. Ali estava o retrato da retomada da vida como ela é. 

Olhando para a câmera, Léo sorriu ao conferir os cabelos incrivelmente curtos e diferentes do modo praiano. O homem na praia se encontrava bem distante agora. Tinha sido ele, mas, ao mesmo tempo, não era mais. Ergueu o polegar em um gesto de autoafirmação, o indicativo de que estava em paz. 

A vida em Ribeirão Preto, com sua rotina e seu calor, servia como um lembrete constante de que a felicidade não se encontra em lugares poéticos ou em relacionamentos perfeitos, mas na resiliência e na capacidade de se levantar após a queda. Ele havia aprendido a valorizar os pequenos momentos: o cheiro do café pela manhã, a geladeira branca e ruidosa, o calendário representando os dias que passavam, a vida que seguia e as oportunidades que apareciam. O polegar para cima, como fizera na foto, era um gesto simples que se tornara frequente, carregando o peso de toda a sua jornada. Era um "estou bem", um "estou aqui", um "consegui" e, talvez, o mais importante, era um "eu me amo". O seu sorriso, embora discreto, ia além da foto: era de alma!

Sob essa nova perspectiva, Leo foi ressignificando sua existência. Não queria saber de nenhuma outra história de amor, a não ser focar no amor por si mesmo. Colocando-se em primeiro lugar, redescobriu velhos hobbies, fez amizades e até se matriculou em um curso de fotografia. 

Capturar momentos se tornou sua nova paixão, uma forma de eternizar a beleza efêmera da vida, aquela que ele quase deixara de notar. As fotos refletiam seu estado de espírito: cores vibrantes, cenas do cotidiano, detalhes que antes passavam despercebidos. 

Ribeirão Preto, com sua luz intensa e seus cantos interessantes, se tornou um cenário rico e inspirador. Não havia prazer maior que trabalhar aquelas imagens, analisar, absorver a leitura de cada uma. Aquele relacionamento ruim foi engavetado no armário dos acontecimentos passados, vez que era lá, e tão somente lá, o seu lugar mais adequado, representando um triste, porém, importante capítulo, e não a história toda, vez que agora vislumbrava uma vontade infinita de viver. 

Talvez, em algum lugar, em algum momento futuro, possa existir um novo tipo de conexão, construída sobre uma base mais sólida de autoconhecimento e aceitação. Mas, por agora, ele estava bem. Completamente bem, em sua própria pele, em sua própria cidade, com suas próprias histórias para contar e fotografar.

2 comentários:

  1. Leo encontrou-se na paz cotidiana, em paz consigo.

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  2. Uma história de superação. No fim das contas, Leo queria o que todo mundo quer: Paz.

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