Noite quente, sei lá que horas, ventilador pequeno tentando refrescar o quarto que cheirava corpos ardentes que acabaram de se entregar ao orgasmo.
Ele se esticou para apanhar o isqueiro e o maço de cigarros, mas continuou na cama e manteve o outro braço a ela abraçado.
Ela, franzina, pele pálida, relaxava com a cabeça no peitoral suado, vermelho e gordo dele, cujo coração se ouvia bater em seus ouvidos. Uma das pequenas e delicadas mãos repousava na barriga peluda e saliente dele, como se ela fosse um imenso travesseiro.
Após contar sua condição soropositiva e também a condição de ansiedade e depressão, ela deixou claro que entenderia se eles não se vissem mais. Aquela era a terceira foda em um quinto encontro. Queria tê-lo para sempre, mas sabia que seria muito egoísmo.
- A gente vai dando um jeito - ele falou, acendendo o cigarro à boca.
- E se a minha doença piorar?
- A gente vai dando um jeito - ele repetiu, regozijando-se no alcatrão e na nicotina do fumo.
- E se a sua vida se complicar?
- Ah, ela certamente irá.
- Então! Como é que vai ser isso?
- A gente vai dando um jeito.
Eles se olharam, ele riu e tirou o cigarro da boca:
- Mulher, não existe vida perfeita em um relacionamento sério. Existe uma construção a dois. Você, com seus problemas, e eu com os meus. E enquanto a gente puder, a gente dá um foda-se para eles, fazendo o que que gente fez agora: fodendo.
Ele voltou a fumar, contente em sentir a mão carinhosa dela lhe acariciando em silêncio. O que tinha acabado de dizer, não era sobre foda. Era sobre viver uma história junto, aconteça o que acontecer. Saber o que quer - e estar disposto a peitar o que vier - é o diferencial para o relacionamento sério.
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